O Socialismo foi a promessa de futuro mais potente do século XX. Por ela se mobilizaram homens e mulheres de todos os países, credos e origens, foram criados partidos políticos, promovidas revoluções, conquistas do mundo do trabalho foram cravadas no Estado e desatadas guerras sem quartel. Também para evitar que se tornasse realidade, foram cometidos toda sorte de crimes. Muitos militantes da justiça, da paz e do socialismo ficaram pelo caminho.
Se o século XX foi o século do Socialismo, as duas primeiras décadas do século XXI foram marcadas pelo questionamento deste projeto. A queda do Muro de Berlim e a desintegração das experiências pós-capitalistas do Leste Europeu levaram a um amplo questionamento em torno da viabilidade de um socialismo democrático, capaz de prover as crescentes demandas materiais de uma sociedade cada vez mais impactada pelo desenvolvimento tecnológico. Com o crescimento da extrema direita, enfrentamos um novo desafio e devemos refletir sobre como atuar com a necessária unidade com aqueles que se posicionam contra a extrema direita, mas ao mesmo tempo apresentar um projeto de sociedade visando a superação das desigualdades e a superação do capitalismo
Nesse período, muitos partidos e movimentos abandonaram a perspectiva socialista. Outros tantos buscaram novas interpretações do que seria o socialismo, numa versão contemporânea do revisionismo do início do século passado. Outros, numa cópia de si mesmos, reafirmaram certezas ignorando as dúvidas do presente.
O PSOL se reivindica um partido do socialismo e da liberdade. Significa que acreditamos que a superação do capitalismo por uma ordem social baseada na igualdade de condições e oportunidades – o Socialismo – não só é possível como indispensável. É inegável, mesmo entre pensadores liberais, que para se sustentar, o capitalismo tem produzido devastação, desigualdade e violência.
Mas acreditamos que essa nova ordem social deve ser profundamente democrática, baseada na liberdade e na promoção das potencialidades humanas. Nosso socialismo terá as cores do povo, sua diversidade, suas formas de amar, de viver e de crer. Uma ordem social baseada na justiça só pode se sustentar Na completa socialização da riqueza socialmente produzida, na mais ampla participação política e no compromisso ético com o respeito ao outro.
Esse é o maior desafio dos socialistas no século XXI: retomar os significantes que expressam um outro mundo possível – a justiça, a igualdade, a liberdade, a vida comunitária – frente à ofensiva desatada pelo individualismo neoliberal. As condições objetivas para a construção de uma nova ordem social estão dadas. O trabalho humano produz riqueza suficiente para que ela seja distribuída de forma a superar as profundas desigualdades sociais que marcam nosso tempo. O que falta é uma estratégia capaz de – parafraseando Jameson –tornar mais fácil “imaginar o fim do capitalismo do que o fim do mundo”. Essa também é uma oportunidade para debater o sujeito capaz de levar adiante as tarefas da revolução brasileira, como fortalecer alianças no “andar debaixo”?
Como entendemos as classes trabalhadoras em sua heterogeneidade? Como articular a luta pelo socialismo com o feminismo, a luta LGBT+ e o antirracismo?
Um partido, sozinho, não pode dar conta desse desafio. Mas é indispensável oferecer um projeto capaz de pensar a organização da política – e do poder – a partir da vontade de mudança das maiorias sociais, construindo uma hegemonia dos que vivem do trabalho. Então, como organizar as mais diferentes matizes do movimento socialista na luta pela construção de ferramentas políticas capazes de voltar a encantar milhões novamente? Por isso, um partido que queira fazer avançar a luta socialista no século XXI será de defesa da liberdade ou não estará à serviço do socialismo.