As lutas sociais contra o avanço do neoliberalismo marcaram o início do século XXI. Os protestos contra a OMC em Seattle e o movimento altermundialista encontraram na América Latina um meio de cultura que combinou greves de trabalhadores com rebeliões populares. No Brasil, o papel histórico do movimento sindical e estudantil se combinou ao protagonismo de movimentos populares, urbanos e rurais, na resistência às privatizações e nas lutas por terra, teto, trabalho e reconhecimento.
Sob o efeito da crise econômica de 2008, lutas sociais contra a austeridade e por democracia real ganharam um novo impulso, também marcando a entrada em cena de uma juventude com trabalhos precários e mal remunerados. Há um fio condutor entre as revoltas no mundo árabe em 2011, as jornadas de junho de 2013 no Brasil, o movimento dos “indignados” na Espanha, o movimento Occupy nos Estados Unidos, os movimentos de contestação à ordem na Colômbia e Equador, o levante feminista na Argentina e a explosão social de 2019 no Chile.
Mas os últimos 10 anos indicaram o início de um novo ciclo que se prolonga até os dias de hoje, marcado pela ascensão da extrema direita, apesar da resistência popular em diversos países. De lá para cá, as principais perguntas que os lutadores sociais pelo mundo todo passam a fazer é: como resistir ao fascismo e as classes sociais que ele sustenta, nas ruas? Quais as formas de recuperar protagonismo nas ruas demonstrando mais força do que a extrema direita?
Nessa situação que segue aberta, instável e defensiva do ponto de vista da esquerda, novos movimentos sociais, com os setores mais oprimidos e explorados à frente, realizaram jornadas significativas de resistência. As lutas das mulheres, dos negros, dos indígenas e em torno da crise ambiental ganharam força diante de um mundo do trabalho mais fragmentado, onde foram construídas novas formas de subjetividade e de senso de pertencimento. Como podemos articular, fortalecer e renovar os movimentos populares e dos trabalhadores, que sempre tiveram peso histórico em nosso país, com essas novas lutas e sujeitos que encadeiam o feminismo, o antirracismo, a luta LGBTQIA+ e a resistência pelo clima?
Após a vitória de Bolsonaro muitas foram as formas de resistência nas ruas. As lutas unitárias, se não foram suficientes para impedir sua eleição ou para removê-lo do poder durante o exercício do mandato, foram fundamentais para pavimentar uma unidade capaz de derrotá-lo eleitoralmente em 2022. Como podemos então fortalecer campanhas unitárias do movimento social contra a extrema direita brasileira?
Importante observar também as disputas ideológicas que crescem com a polarização. Pela direita, observamos o fundamentalismo religioso, o nacionalismo xenófobo, as seitas supremacistas; pela esquerda, identificamos movimentos de lutas urbanas por habitação, transporte, saúde, entregadores de aplicativos, vendedores ambulantes, movimentos de mulheres, luta anti-racista, movimentos de povos indígenas, campesinos e LGBTQIA+. Como enfrentar essa disputa ideológica e as “guerras culturais” com a extrema direita, especialmente quando estamos disputando as mesmas parcelas das classes trabalhadoras?
É preciso pensar na articulação das lutas e blocos políticos em nível internacional a partir da crise da globalização, da corrida tecnológica e da resposta armamentista e do crescimento da militarização do imperialismo. As lutas anti-imperialistas são cada vez mais necessárias, sobretudo no contexto da reeleição de Donald Trump. Como impedir que a extrema direita ganhe terreno político e institucional no Brasil e no mundo? Como os movimentos sociais podem se colocar como agentes estratégicos na resistência à extrema direita nas ruas e nas redes? Essas são algumas perguntas que queremos mobilizar nesse nosso processo de atualização programática.